Relato de brasileiros residentes na Argentina sobre a vida com a desvalorização da moeda

A desvalorização do peso argentino causada pela hiperinflação tem atraído um grande número de turistas brasileiros ao país vizinho. Com o real valendo mais, a sensação de riqueza aumenta devido ao alto poder de compra. No entanto, os brasileiros que vivem na Argentina relatam que a crise econômica e a instabilidade cambial afetam o custo de vida e exigem cautela. Nos últimos 10 anos, o peso argentino perdeu 98,37% de seu valor em relação ao dólar, tornando-se o país sul-americano com a maior desvalorização no período, de acordo com um levantamento da L4 Capital.

Gabriela Gonçalves, uma brasileira que mora em Buenos Aires há 1 ano e meio, conta que, apesar de sentir-se com maior poder aquisitivo, viver no país não é exatamente um conto de fadas. Segundo ela, é necessário estar atento às flutuações cambiais, já que o peso desvaloriza-se rapidamente. No entanto, é possível viver bem, desde que se tenha consciência de que não se terá uma vida luxuosa, mas sim uma melhor qualidade de vida.

Gabriela, que trabalha como produtora de conteúdo para uma empresa no Brasil e recebe em reais, sente-se privilegiada por poder desfrutar de alguns benefícios, como alimentação mais barata do que no Brasil. Ela relata que, devido à desvalorização do peso, os estrangeiros costumam fazer transações em criptomoedas, Mercado Pago ou Western Union para trocar por pesos, já que as taxas de câmbio são melhores e não há risco de receber notas falsas do câmbio paralelo.

Gabriela, que é de São Paulo e apaixonada pela Argentina, destaca que, apesar da crise econômica, Buenos Aires é uma cidade culturalmente rica, com várias atrações gratuitas. Além disso, ela se sente mais segura do que no Brasil, pois a violência é menor. No entanto, é preciso ter cuidado para não cair na armadilha de achar que tudo é barato, pois os preços sobem rapidamente.

O valor do aluguel é o que mais pesa no bolso dos brasileiros que vivem na Argentina. Geralmente, os proprietários de imóveis fazem contratos de aluguel temporários e em dólares para os estrangeiros que não trabalham no país. Os reajustes costumam ocorrer a cada três meses. Já para aqueles que trabalham na Argentina, os contratos têm duração de três anos e os reajustes são semestrais. Nos bairros de Recoleta e Palermo, em Buenos Aires, o aluguel costuma ser mais caro e ter preços semelhantes aos de um apartamento básico em São Paulo. Em média, um casal paga cerca de R$ 3.000 por mês.

Enio Nascimento, brasileiro que viveu por 18 anos na Argentina, concorda que o aluguel é o maior impacto no bolso dos brasileiros que residem lá. Segundo ele, os preços são sempre cotados em dólares. Durante a pandemia, ele voltou ao Brasil, mas pretende voltar à Argentina no início do próximo ano para terminar o curso de medicina.

Paula Garcia, estudante de medicina que trabalha em um restaurante em Buenos Aires, reclama da inflação e da moeda fraca. Ela precisa se esforçar para pagar os gastos do quarto que divide com uma colega de faculdade. Segundo ela, o custo de vida está muito alto, seu salário não é reajustado com frequência e a desvalorização do peso aumenta seus gastos. O aluguel é sua maior despesa.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, alerta que a profunda crise econômica da Argentina vem despertando preocupações em todo o mundo. Ele destaca que, apesar da ilusão do câmbio favorável, a inflação alta no país faz com que os preços dos produtos e serviços subam rapidamente, reduzindo o poder de compra dos turistas brasileiros. Segundo ele, é importante entender as diferenças de precificação entre os setores e negociar os preços de forma adequada.