Dragão da inflação ‘devora’ carne que argentino anseia consumir

Comer carne na Argentina: tradição e desafios econômicos

A cultura da carne bovina na Argentina vai muito além de apenas se alimentar, é parte integrante da identidade nacional. O renomado churrasco argentino, conhecido como “asado”, é um dos pilares da gastronomia do país, com um rebanho robusto composto por mais de 54 milhões de cabeças de gado, predominantemente das raças britânicas Hereford e Aberdeen Angles.

Além do churrasco, a erva-mate – consumida em infusão através da cuia e da bomba de metal – também faz parte do dia a dia dos argentinos, sendo carregada por todos os adultos, quer estejam em casa ou nas ruas movimentadas das cidades.

Recentemente, a Bolsa de Comércio de Rosário divulgou uma projeção alarmante: até o final de 2024, o consumo médio anual de carne na Argentina deve atingir 44,8 kg por habitante, o valor mais baixo desde 1914. Este declínio está diretamente ligado à inflação galopante que atinge a classe média e as classes mais desfavorecidas, representando cerca de 60% da população.

A inflação anual oficial está em 263,4%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), tornando os preços da carne inacessíveis para muitos. Oscar Zoanni, proprietário de uma loja de materiais de construção em Buenos Aires, conta como as altas de preços o forçaram a reduzir a frequência de seus churrascos semanais, substituindo cortes nobres por carnes mais baratas.

Comer fora tornou-se impraticável para muitos argentinos, devido aos preços exorbitantes. No entanto, Pablo Rivero, dono da renomada parrilla Don Julio, tem mantido os preços estáveis, minimizando o impacto da queda na demanda. A crise econômica afetou não apenas os argentinos, mas também os turistas, com uma queda significativa no fluxo de visitantes estrangeiros.

Diante desse cenário desafiador, a tradição argentina de apreciar um bom churrasco está ameaçada pelos altos preços e pela inflação desenfreada. A incerteza econômica afeta não apenas o consumo interno, mas também o turismo, evidenciando a necessidade de medidas para estabilizar a economia e preservar a cultura gastronômica tão estimada pelos argentinos.